5 Razões objetivas pelas quais o bitcoin ainda está barato

Deixando o fanatismo de lado e partindo para a calculadora. Spoiler: menos de 0,5% da população mundial tem bitcoin.

Felipe
7 min readNov 28, 2017

Antes de mais nada: de fato, é inacreditável. Como pode uma moedinha virtual, criada por um ser anônimo, dentro de um computador, nascer valendo centavos e hoje ser vendida por milhares de dólares, ainda por cima adorada como se fosse a próxima grande invenção da humanidade?

Não é qualquer um que entende a mudança de paradigma por trás desse advento tão mal falado, e que, segundo se argumenta, inaugura uma classe inteiramente nova de ativos. A narrativa em torno da criptomoeda é permeada de elementos religiosos (do caráter messiânico do profeta Satoshi ao texto sagrado e às seitas em eterno conflito), e talvez por isso seja tão comum encontrar fanáticos por aí.

Um meme popular na comunidade do bitcoin.

Para estes, é uma questão de tempo até que o bitcoin substitua completamente o dólar, como meio de pagamento global, e/ou o ouro, como reserva de valor. O arcabouço argumentativo é consistente: a tecnologia da blockchain confere à criptomoeda vantagens nos quesitos portabilidade, fungibilidade, divisibilidade e dificuldade de falsificação, em relação ao papel moeda e até ao dinheiro eletrônico dos bancos modernos. Tecnicamente, a superioridade é evidente, e o progresso é uma questão de aculturação social e tempo.

Confira abaixo a exploração desses e outros motivos objetivos para acreditar que o bitcoin ainda tem muito espaço pra crescer.

1. 💸 O caso das remessas internacionais

A indústria global de remessas internacionais (remittances) gira hoje ~596 bilhões de dólares anualmente. Imaginemos que o bitcoin pode abocanhar parte desse valor transacional, por permitir remessas mais baratas e rápidas que SWIFTs ou métodos tradicionais (para efeito de comparação, com taxas e tempos que beiram zero).

O “mesmo” bitcoin pode ser usado mais de uma vez para um pagamento. Uma vez que cerca de metade dos usuários holda seus bitcoins, evitando esse caso de uso quase que por completo, podemos estimar um número de 3 transações / ano por bitcoin e levar a inércia desses holders em conta, chegando a uma velocidade média de 1,5 (quantas vezes uma moeda troca de mãos por ano).

Para suportar uma economia anual de ~U$596 bilhões, precisamos de U$596bi / 1,5 = ~U$397 bi. Como hoje temos ~3.7 mi. de bitcoins perdidos (fora da conta), podemos dividir ~U$397bi pelo total de bitcoins já emitidos (~16.9mi) menos a quantidade perdida (16.9–3.7 = 13.2m bitcoin em circulação ), chegando a um valor utilitário hipotético de U$397bi / 13.2mi = U$30.075 por bitcoin. Isso, é claro, se levarmos em conta a absorção completa desse mercado no estágio atual. Uma estimativa levando em conta 50% de penetração resulta em um preço hipotético de U$15.165 por bitcoin.

Vale ressaltar que a projeção é feita em cima do tamanho presente (2017) e publicamente divulgado do mercado. Desconsidera-se aqui todas as transações que compõem os ditos “mercados negros”, assim como o potencial do bitcoin de expandir a própria indústria, ou dela derivar nichos de mercado inéditos (leia aqui sobre machine-to-machine payments, por exemplo).

2. 💰 O caso da reserva de valor: substituindo (em parte) o ouro

Vamos assumir que a criação de valor, no futuro, está em grande parte no mundo digital (leia-se Amazon, AirBnb, Uber e os que vem depois). E que esse mundo precisa de algum tipo de bem escasso, equivalente ao ouro na era industrial. Algum ativo inviolável, de oferta finita, reserva de valor consensual e de fácil acesso. O bitcoin, seguro devido a suas propriedades criptográficas, parece um candidato adequado.

A capitalização de mercado do ouro está na casa dos ~U$7-9 trilhões. Se o Bitcoin assumir pelo menos 5% desse mercado (digamos, U$450bi, 5% de U$9tri), a conta simples, hoje, partindo do raciocínio exposto no item acima, resulta em U$34.090 por bitcoin . Uma absorção simulada de 100% do mercado, no caso dos mais otimistas, resulta em mais de U$500.000 por bitcoin.

3. 🔥 Tem muito dinheiro se aquecendo pra entrar no jogo

Apesar de heterogêneo e distribuído, o grupo de pessoas que fizeram fortuna com o bitcoin ainda é relativamente restrito. 4.11% dos endereços possuem 96.53% do valor da rede. Em setembro de 2017, era preciso 15 bitcoins para se estar entre os 1% mais ricos (~150 mil dólares, a valores de 28/11/2017, menos do que a barreira de entrada para os 1% da economia global, de ~U$770.000).

A movimentação institucional e o interesse corporativo marcaram 2017 e foram fatores determinantes na disparada dos preços. Mas, mesmo com a chegada de fundos privados, o mercado ainda ignora largamente investimentos em criptoativos: só 3% de operadores do varejo financeiro americano já investiram em bitcoin. Do mesmo jeito, tecnologias baseadas em blockchain ainda estão longe da darem resultados reais nos experimentos praticados por grandes empresas. Ou seja: a demanda tem espaço pra crescer.

A Coinbase, maior bolsa digital de criptomoedas dos Estados Unidos, tem ganhado 100.000 novos usuários por dia.

As criptomoedas ainda são nanicas perto de outras classes de ativos.

O número de fundos dedicados a cripto passou de um punhado a mais de 120, em outubro, e os EUA esperam ansiosamente pela aprovação dos primeiros ETFs de bitcoin e ether (ETFs, ou exchange traded funds, são veículos de investimento que movimentam U$1.5 trilhões ao ano só no mercado interno), sendo que há propostas em trâmite há anos.

O grupo CME, uma das maiores instituições financeiras dos EUA, vai começar a operar os primeiros futuros de bitcoin devidamente regulamentados, na segunda semana de dezembro.

Aqui no Brasil, o maior banco do país articula a sua entrada na criptolândia através do que parece uma aquisição da maior corretora de bitcoin do país. Prepare-se. Sua previdência vai estar em criptomoedas mais cedo do que pensa.

4. 📈 As previsões são insanas. E vêm se concretizando.

Em um agora famoso texto no reddit, um usuário diz ter vindo do futuro, e conta que o preço bitcoin aumentou a um fator de ~x10 anualmente, em média, até diminuir de ritmo e fazer o mesmo salto a cada dois anos, a partir de 2013.

U$0,10 em 2010 -> U$1 em 2011 -> U$10 em 2012 -> U$100 em 2013 -> U$1.000 em 2015 -> U$10.000 em 2017 (estamos quase lá!) -> U$100.000 em 2019 -> U$1.000.000 em 2021.

Daí em diante, ele diz não ter mais meios adequados pra expressar o valor em dólares, uma vez que o papel moeda deixa de existir: passou-se a medir riqueza somente em terra e criptomoedas. A “profecia” foi postada já faz 4 anos e vem se realizando.

Ok, esse não é um argumento objetivo (apesar de a leitura do post original valer cada minuto). Mas, por trás de cada projecão aparentemente descabida, clama-se uma fonte diferente de razão — para os que são propensos a acreditar, é só escolher a que mais se adequa:

Isso sem falar na aposta genitálica do John McAfee em torno dos U$500.00 por bitcoin. Veja uma lista de 10 previsões aqui.

5. 👴👶 A transformação é geracional

61% dos millennials norte americanos compraram bitcoin nos últimos 12 meses. Dois terços julgam-no mais seguro do que uma conta de banco tradicional.

Bill Gates dizia que “nós costumamos superestimar as mudanças que devem acontecer nos próximos 2 anos, e subestimar as da próxima década”. Talvez se aplique ao bitcoin.

Havia em torno de 1 milhão de pessoas no mundo com a moeda em 2014, um número que saltou para atuais 25 milhões. O crescimento é vertiginoso, mas (ainda) não justifica os brados de que essa é uma nova ordem financeira mundial. No entanto, está plausivelmente se tornando.

O bitcoin tem ganhado aceitação em portfolios individuais e institucionais de investimento, em comércios locais como meio de pagamento mais eficiente, em economias hiperinflacionadas onde o papel moeda passa a ser evitado e em zonas sensíveis onde o fluxo de capital é sufocado. Penetra o mainstream pelas beiradas, subvertendo o sistema mais sujo e propenso à corrupção que a sociedade já deu à luz… apesar de ainda ser uma novidade pra 99,68% da população global (25 milhões de pessoas = ~0,32% dos seres humanos na Terra).

Menos de meio porcento do mundo tem qualquer posse em bitcoin.

Todos nós tivemos a chance de comprar o nosso. Hoje, umzinho só vale 35 mil reais. Pare e pense. Tem gente que diz que ainda tá barato.

Variação do preço do dólar, em bitcoin, nos últimos 12 meses.

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Felipe
Felipe

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