Esta Ă© uma tradução livre, adaptada e remixada do texto âUnderstanding the Blue Churchâ, de Jordan Hall.
âO principal eixo da polĂtica ocidental nĂŁo mais opĂ”e âesquerdaâ vs. âdireitaâ; nem conservadores vs. liberais - mas o establishment vs. o anti-establishmentâ.
O livro âMaking Things Workâ descreve com minĂșcia as relaçÔes entre complexidade e estruturas de controle social. A ideia central Ă© simples.
A coerĂȘncia Ă© um conceito-chave na gestĂŁo da complexidade. Quando se tem sistemas complexos, e se Ă© capaz de sincronizĂĄ-los, a complexidade do sistema resultante Ă© radicalmente simplificada. NĂŁo estamos falando de matemĂĄtica, nem de fĂsica. Estamos falando de gente.
Imagine uma canoa comprida e larga, com um remador lĂĄ na frente e outro atrĂĄs. Se vocĂȘ jĂĄ remou, sabe que nĂŁo Ă© tĂŁo simples. Tem certa arte envolvida. Se ambos falarem alto o suficiente, checarem um ao outro com frequĂȘncia, e se concentrarem, conseguem manter a embarcação no rumo com relativa facilidade.
A relação entre a canoa, a ĂĄgua, os remos e os indivĂduos Ă© complexa. Os sistemas se retro-alimentam de modo sutil e difĂcil de prever no detalhe. Mas um adulto mĂ©dio tem âcapacidade de controleâ suficiente para gerir essa complexidade: fazer a brincadeira funcionar sem a canoa virar, ou ficar encalhada no mesmo lugar.
Adicionemos um ou dois remadores no meio do barco. Torna-se mais difĂcil manter a sincronia entre os remos. Talvez seja preciso restringir certa liberdade para evitar acidentes e ganhar eficiĂȘncia. Algo como colocar os remos num apoio que limite seus movimentos a um arco â entra na ĂĄgua, rema, sai da ĂĄgua, puxa â necessĂĄrio para propelir a canoa. Induzir os remadores Ă âcoerĂȘnciaâ faz com que a complexidade do problema se mantenha dentro da capacidade de controle.
Agora pense numa canoa com 12 remadores. Por mais que se tente, Ă© difĂcil que um grupo grande de pessoas se âauto-organizeâ num organismo eficiente. A nĂŁo ser que alguĂ©m esteja no controle.
Coloque um timoneiro na proa. Mesmo que a função desse lĂder seja somente a de gritar âremem!â na hora certa, reduzindo o trabalho de todos os remadores a responder este comando.
O que fizemos foi substituir uma dĂșzia de indivĂduos por um âgrupoâ e um âlĂderâ, numa hierarquia de controle. Isto Ă© uma simplificação radical, claro. Como os gregos e romanos descobriram hĂĄ muito tempo, o mecanismo Ă© escalĂĄvel.
A quantidade de âsinaisâ subindo e descendo a hierarquia tem de ser extremamente simples, para nĂŁo escapar Ă âcapacidade de controleâ de cada indivĂduo (âRemem!â). JĂĄ imaginou se os remadores tivessem de remar e debater sobre a direção da canoa ao mesmo tempo? Ă uma coisa ou outra.
Tomemos nota: (1) A complexidade do sistema. (2) Nossa habilidade de simplificar o sistema. A (3) âcapacidade de controleâ disponĂvel para gerir o sistema simplificado.
A complexidade da vida moderna
Nos Ășltimos 150 anos, passamos por uma explosĂŁo populacional sem precedentes. Com ela, uma explosĂŁo de complexidade social.
Pela primeira vez na história, a humanidade migrou de uma maioria rural para uma maioria urbana, acelerando o ritmo do cotidiano e intensificando a interação social que decorre da vida na cidade. Cavalos deram lugar a ferrovias, que foram trocadas por carros, que foram suplementados por aviÔes. O mundo se encolheu a uma meta-comunidade conectada.
Fomos da primeira postulação da teoria evolucionista, por Darwin, em 1859, atĂ© a descoberta do DNA por Crick e Watson, em 1953. Fomos da primeira teoria do eletromagnetismo em 1864 ao desenvolvimento da bomba atĂŽmica em 1945. Que par de sĂ©culos! đł
O crescimento exponencial de complexidade criou um problema. As formas de controle social que nos conduziram ao sĂ©culo XIX se mostraram inadequadas aos nĂveis inĂ©ditos de embaraço do sĂ©culo XX. A sociedade civilizada nĂŁo funciona sem uma estrutura regulatĂłria adequada ao seu nĂvel de complexidade.
Um novo tecido ideolĂłgico houve de emergir em resposta ao fenĂŽmeno.
Chamemos de Igreja Azul a estrutura de controle que resulta ânaturalmenteâ do fenĂŽmeno das mĂdias de massa.
Trata-se de uma função que evoluiu (nĂŁo âfoi planejadaâ) ao longo do Ășltimo meio sĂ©culo e acabou por se associar ao establishment democrĂĄtico e ao âEstado Profundoâ (falaremos mais adiante), originando uma força cultural politicamente eficaz e dominante no mundo ocidental.
Pode-se traçar as origens da Igreja Azul ao começo do sĂ©culo XX, quando emergiu em reação Ă s vocaçÔes da mĂdia de massa para o controle social. No meio do sĂ©culo, passou a exercer papel cada vez mais ativo na formação e moldagem de instituiçÔes produtoras de cultura. Difundiu-se nas Ășltimas cinco dĂ©cadas e parece ter atingido um pico na primeira dĂ©cada do sĂ©culo XXI. De uns anos para cĂĄ, começou a desmoronar.
A paisagem midiĂĄtica
A tecnologia nĂŁo Ă© de todo neutra. Como Marshall McLuhan escreveu, âquando inovamos, nĂłs nos tornamos aquilo que vislumbramos. Damos forma a nossas ferramentas, e elas nos transformam de voltaâ.
Imagine uma paisagem com colinas. Aproxima-se um temporal â o que acontece? NĂŁo Ă© preciso ser um gĂȘnio para prever: a ĂĄgua escoa, acumula-se nos vales e, dependendo dos sulcos, forma lagos ou corre por um rio.
Uma vez que se enxerga o ârelevoâ de uma determinada paisagem e se entende a natureza das forças agindo sobre ela, Ă© possĂvel fazer previsĂ”es mais ou menos certeiras sobre como fenĂŽmenos, ali, devem se desenrolar.
A paisagem da mĂdia Ă© como⊠uma paisagem. Pode cair um meteoro, ou o lago pode transbordar e dar origem a uma cachoeira, Ă© claro. Mas, em linhas gerais, se vocĂȘ conseguir enxergar o ârelevoâ, dĂĄ pra ter uma boa ideia do que vai acontecer.
Os tipos de dinĂąmicas socio-comportamental que emergem em torno da tradição oral sĂŁo bem diferentes daqueles que tomam forma em torno da mĂdia letrada.
O sĂ©culo XX foi abundante em saltos tecnolĂłgicos. Um dos mais relevantes (o trocadilho com ârelevoâ Ă© intencional) foi o desenvolvimento da âmĂdia de massaâ. Por mais que estas novas âespĂ©ciesâ de mĂdia difiram (jornais, rĂĄdio, televisĂŁo), como meios de massa elas guardam um traço em comum: sĂŁo assimĂ©tricas. De um para muitos. Do autor para a audiĂȘncia. Do timoneiro para os remadores.
Nem todo mundo teve acesso Ă imprensa, Ă estação de rĂĄdio, ou ao estĂșdio de transmissĂŁo televisiva. Os poucos que o tiveram ganharam a chance de criar a narrativa dominante. O resto foi reduzido a audiĂȘncia.
O insight que nos interessa aqui Ă© o de que, como audiĂȘncia, nĂłs somos coerentes. Como massa, transformamos milhĂ”es de indivĂduos diferentes em um grupo relativamente simplificado. Enquanto formos mantidos em tal estado de coerĂȘncia, oferecemos algo que pode ser gerido.
Ao longo do sĂ©culo XX, o âproblema da complexidade socialâ foi gerido atravĂ©s de mĂdias de massa capazes de gerar e manter coerĂȘncia em escala.
Politicamente correto
Quando se compreende a estrutura de controle assimétrica mencionada acima, começa-se a enxergå-la em todo lugar.
HĂĄ um fluxo bidirecional bĂĄsico. De baixo para cima, tĂȘm-se a corrente da âautoridade credenciadaâ: os especialistas autorizados (por algum processo legitimador) a formar e expressar opiniĂ”es atravĂ©s de alguma mĂdia de massa. De cima para baixo, opiniĂ”es âpoliticamente corretasâ ancoram nossa coerĂȘncia e traçam limites dentro dos quais reside o âsocialmente aceitĂĄvelâ.
Lembre-se: nĂŁo nos referimos aqui a uma instituição especĂfica (e.g. uma colina), mas sim ao tecido social (e.g. a paisagem)
Tome a academia como exemplo. Estudantes sĂŁo a audiĂȘncia. O trabalho deles Ă© prestar atenção na autoridade credenciada. Escutar, assistir de perto e aprender com o professor a natureza daquilo que Ă© âcorretoâ em cada domĂnio do conhecimento. Se fizerem um bom trabalho â isto Ă©, se responderem âcorretamenteâ Ă s perguntas de acordo com o processo de avaliação imposto pela autoridade â eles passam de ano. Se nĂŁo, repetem.
Lembra de âo meio Ă© a mensagemâ? O conteĂșdo importa, mas, no fim das contas, toda aula Ă© tambĂ©m uma lição sobre como jogar o jogo.
Professores, por sua vez, representam autoridade porque, de tĂŁo bons estudantes, foram convidados tacitamente Ă hierarquia autoritĂĄria.
Isto nĂŁo Ă© uma crĂtica Ă academia! Tal processo de credenciação se provou um motor poderoso para filtrar o non-sense e impulsionar a busca pela verdade. Por mais que haja bastante digressĂŁo (e.g. teoria das cordas), no geral, ao longo do sĂ©culo XX, a mĂĄquina de especialização do conhecimento foi a joia da coroa da civilização.
O que nos interessa aqui é a estrutura formal. Transmissão de informação. Assimetria. Uma arquitetura social que permite a divisão de trabalho, de forma escalåvel, para geração de sentido e tomada coletiva de decisÔes.
NinguĂ©m Ă© capaz de entender mesmo uma fração do que vem acontecendo na sociedade. EntĂŁo quebramos o âproblemaâ em pedacinhos, entregamos os menores ao topo da hierarquia credenciada, onde sĂŁo processados por âespecialistasâ e mastigados atĂ© virarem âopiniĂŁo politicamente corretaâ, que Ă© transmitida para baixo, e se difunde pela população.
Imagine o que seria do trùnsito se nós questionåssemos o que significa o semåforo vermelho, ou se cada um tivesse a sua própria ideia sobre o sistema de cores / organização que melhor funciona.
Similarmente, enquanto todos concordarmos que âo livre mercado Ă© uma boa ideiaâ, ou que âfronteiras nacionais devem ser protegidasâ, ou que âassistĂȘncia mĂ©dica Ă© um direito universalâ, ou que âtodos devem ser tratados de modo igualitĂĄrioâ, ou que âemissĂ”es de carbono levam ao aquecimento globalâ, entĂŁo o trabalho hercĂșleo de se desenhar e implementar polĂticas baseadas nessas premissas pode ser gerido, e a canoa do Estado pode navegar adiante.
âRemem!â
A Igreja Azul
Na Igreja Azul, possuir e expressar opiniĂ”es corretas significa pertencer ao bando, Ă tribo, ou ao time. Traz benefĂcios sociais. Mais importante, falhar em estar alinhado Ă opiniĂŁo socialmente aceitĂĄvel pode ser devastador.
O politicamente correto se retro-alimenta. NĂŁo hĂĄ necessidade de polĂticas top-down para que seja reforçado. Uma vez que gente suficiente entra em coerĂȘncia em torno de âopiniĂ”es corretasâ, dinĂąmicas sociais naturais ao ser humano entram em cena para preservar tal coerĂȘncia.
Experimento mental: imagine-se numa festa, fingindo acreditar, por exemplo, que o aquecimento global nĂŁo Ă© real. Ou que o IslĂŁ, ou o Feminismo, sĂŁo ideologias perigosas. NĂŁo Ă© preciso fazĂȘ-lo de verdade para saber que vai passar vergonha e ser excluĂdo do grupo. Pergunte a Sam Harris, Jordan Peterson e Steven Pinker â especialistas que tĂȘm começado a se ver com frequĂȘncia no lado oposto ao âpoliticamente corretoâ.
A parte negativa dessa dinĂąmica de reforço social sĂŁo as cĂąmaras de eco onde opiniĂ”es que violam o status quo sĂŁo demovidas do discurso â mesmo quando valorosas ou importantes.
Cultura pop na Igreja Azul
Somos animais sociais, constantemente em busca de exemplos para assistir e aprender com. A domesticação da nossa espécie depende de um modelo simples: preste atenção às pessoas nas quais outras pessoas estão prestando atenção.
Por natureza, somos obcecados com quem atrai atenção â mas, notavelmente, cada vez menos interessados em questionar se essa atenção Ă© merecida ou nĂŁo.
Pense em celebridades. Como Ă© difĂcil distinguir âatrair atençãoâ de âmerecer atençãoâ, o simples fato de se ter uma cĂąmera apontada para si implicitamente confere certos poderes/credenciais de autoridade. NĂŁo sĂŁo raros os casos de figuras que exercem influĂȘncia para muito alĂ©m dos seus campos de domĂnio.
Estar na frente da cùmera, por muito tempo, conferia autoridade mesmo se a pessoa em questão não era real. à por isso, em parte, que a cultura pop exerce função tão pivotal na narrativa da Igreja Azul.
Assim como os remadores sĂŁo entretidos Ă cadĂȘncia do timoneiro, nĂłs todos fomos treinados, pela maior parte da vida, para encontrar, adotar e executar uma forma ou outra de ânarrativa maiorâ. Uma narrativa complicada o suficiente para responder aos anseios da vida moderna, mas simples o suficiente para ser gerida.
Trata-se nĂŁo sĂł do trabalho no escritĂłrio das 9AM Ă s 6PM. Trata-se de conjuntos de premissas, axiomas, verdades e processos geradores de autoridade que simplificam a complexidade estafante do mundo contemporĂąneo e dĂŁo a nĂłs, pobres primos de chimpanzĂ©s, jeitos digerĂveis de nos movermos adiante de modo mais ou menos coordenado.
Muitos destes axiomas estĂŁo deixando de funcionar. Nossa ansiedade coletiva vem crescendo em curva parabĂłlica.
O novo cenĂĄrio da mĂdia
Tive muitas aulas sobre âmĂdia digitalâ na faculdade. O foco sempre foi vender anĂșncios. Nunca me levaram a questionar a supremacia (e o colapso inevitĂĄvel) da Igreja Azul. Muito menos me conduziram a imaginar a forma que tomaria a emergente, reformada FĂ© MemĂ©tica (nĂŁo ligue para o nome, por enquanto â entraremos em detalhe adiante).
A internet Ă© muito mais simĂ©trica que a transmissĂŁo televisiva ou a imprensa. E oferece um ânicho para a geração de coerĂȘnciaâ que nĂŁo existia antes. Difere em muito daqueles que deram origem Ă s grandes narrativas passadas. A paisagem mudou. Ă se adaptar ou padecer.
Brexit, Trump, a ressurgĂȘncia do nacionalismo, o globalismo na berlinda, Bolsonaro e tantos outros fenĂŽmenos, correlatos ou nĂŁo, sĂŁo sintomas da insurgĂȘncia da FĂ© MemĂ©tica. Se for pra destrinchar essa nova paisagem, temos que mergulhar mais a fundo. Se for pra mergulhar mais a fundo, temos que aceitar o fato de que nĂŁo vai ser nada confortĂĄvel.
O nĂvel de complexidade do sĂ©culo XXI estĂĄ simplesmente fora da âcapacidade de controleâ provida pelas estruturas formais da Igreja Azul. A nĂŁo ser que rompamos com suas premissas antiquadas e nos movamos para approaches novos, nossa corrida em direção ao futuro vai decorrer de modo cada vez mais caĂłtico. Ă se adaptar logo, ou padecer rĂĄpido.
âI like chaos. It really is good.â â Donald Trump
- Modus operandis para se gerir sistemas complexos como o meio ambiente falharam. Até tarde no século XX nós não éramos poderosos o suficiente, como espécie, para que isso fosse relevante. Agora, precisamos evoluir logo.
- Não temos ideia de como dar o próximo passo. Precisamos lidar melhor com antro-complexidade. A governança clåssica se tornou disfuncional.
- Precisamos aprender a navegar as consequĂȘncias reais das tecnologias exponenciais. Talvez nĂŁo passemos da virada do prĂłximo sĂ©culo. HĂĄ quem acredite que a singularidade deve acontecer antes de 2045.
No contexto destes desafios, a Igreja Azul Ă© simplesmente despreparada. O mundo estĂĄ se movendo num ritmo que as hierarquias de controle nĂŁo conseguem acompanhar.
E as novas formas de âinteligĂȘncia coletivaâ ainda nĂŁo sĂŁo claras o suficiente para nos reconfortar.
Sabemos muito pouco sobre elas. Talvez a versĂŁo mais robusta de uma inteligĂȘncia descentralizada a ter emergido atĂ© hoje tenha sido a insurgĂȘncia Trumpista de 2016. Quero ver explicar como ela opera!
A Fé Memética
A coerĂȘncia das novas formas de inteligĂȘncia coletiva nĂŁo Ă© determinada por fatores exĂłgenos, mas pela infraestrutura da informação, em si. Ao contrĂĄrio do que muitas vezes se pensa, enxames digitais nĂŁo sĂŁo unidos por sentimentos (como a raiva) ou por ideologias (como o supremacismo branco). O que agrega membros disparatados da FĂ© MemĂ©tica Ă© o fato de que redes se estruturam para recompensar ideias que atingem massa crĂtica memĂ©tica independentemente da origem do meme. Recompensa-se com a amplificação da atenção (muitas vezes, inclusive por parte de âliderançasâ), nĂŁo importa a seita de onde tenha vindo o meme.
EstĂĄ aĂ uma das regras primazes. A rota para a amplificação pela liderança Ă© visĂvel. O jogo Ă© claro para quem joga. A FĂ© MemĂ©tica nĂŁo toma decisĂ”es em salas de reuniĂŁo editorial ou gabinetes, mas em fĂłruns pĂșblicos de mensagens incensurĂĄveis, em redes sociais, em tempo real, no Periscope, no YouTube, no Reddit, no 4Chan.
Central a todas as dinĂąmicas da FĂ© MemĂ©tica Ă© a moeda da atenção. Trazer atenção Ă criação de alguĂ©m Ă© uma maneira igualitĂĄria de se recompensar sua contribuição. Cada participante da rede tem a prĂłpria atenção para dar, e, ao fazĂȘ-lo, tem o poder de levar uma ideia a atenção de outrem. Prestar atenção nĂŁo tem custo financeiro e nĂŁo requer infraestrutura de produção. Todo mundo tem atenção pra dar.
Neste contexto, Bolsonaro Ă© um feliz impressor de âdinheiroâ. Memes que atingem seu âpĂłdioâ alcançam a recompensa final.
âAbelhas escoteiroâ na FĂ© MemĂ©tica
Quando abelhas precisam decidir entre potenciais novos lares para suas colmeias, algumas delas assumem um novo papel â o de âescoteiroâ. âAbelhas escoteiroâ voam em busca de espaços secos, quentes, do tamanho de algumas bolas de futebol. Cada uma retorna para contar sobre o cantinho que encontrou. Fazem uma dança que, se entusiasmada e bem sucedida, recruta novas abelhas para conhecer o local. A segunda leva de âabelhas escoteiroâ procede para o local em questĂŁo. EntĂŁo essa leva volta Ă colmeia, e performa sua prĂłpria dança de recrutamento. Em certo ponto, uma quantidade suficiente de abelhas jĂĄ foi convencida pelo entusiasmo coletivo, e uma nova abelha rainha foi nomeada: a aventureira original da âseitaâ vencedora. Enquanto as convencidas se movem para a casa nova, âabelhas escoteiroâ seguem indo e vindo entre a nova e a velha colmeia, garantindo que o mĂĄximo de suas irmĂŁs nĂŁo se perca pelo caminho.
A FĂ© MemĂ©tica tem incontĂĄveis âabelhas escoteiroâ que originam memes, amplificam-nos e guiam o caminho para o ânovo rumoâ. Estas sĂŁo as figuras que estĂŁo sempre ligadas no WhatsApp â e o cerne de suas mensagens Ă© sempre pertinente Ă tarefa em mĂŁos.
Os âescoteirosâ da FĂ© MemĂ©tica sĂŁo amplificadores de mĂŁo dupla. Caçam ideias do resto do âbandoâ, e tambĂ©m ecoam as que vem de cima â especialmente quando o que vem de cima parece reforçar algo que se originou de baixo, ou quando materializa algo que o coletivo âpreviuâ/antecipou.
HĂĄ tambĂ©m os âescoteiros institucionaisâ: no Brasil, a plataforma midiĂĄtica MBL foi recompensada nĂŁo somente com atenção, mas tambĂ©m com voz na cĂąmara dos deputados e um vereador eleito. Nos EUA, o InfoWars de Alex Jones ganhou o reconhecimento de um press release da Casa Branca; e o site de notĂcias Breitbart, passe livre no salĂŁo oval.
A Igreja Azul nĂŁo tem equivalentes â ao menos com tração parecida. Seus lĂderes nĂŁo tem a mesma responsividade. Entre seus valores arraigados estĂĄ a noção de que cada um Ă© dono da sua prĂłpria propriedade intelectual. Na FĂ© MemĂ©tica, o prazer em se amplificar o meme de outrem ou ter uma ideia roubada Ă© tĂŁo grande quanto o de se produzir e divulgar uma prĂłpria.
O âfenĂŽmeno das abelhas escoteiroâ ganhou tanto vigor que nem mesmo oponentes declarados da FĂ© MemĂ©tica conseguem se manter alheios. Pior, nĂŁo conseguem deixar de ser vetores dele.
Na dinĂąmica da abelhas, basta um pouco de amplificação e alguns âescoteirosâ comprometidos para que um meme ganhe tração. A oposição nĂŁo importa. Geralmente, ela sĂł amplifica o meme ainda mais.
Em comparação, a Igreja Azul segue buscando a unanimidade em vez do consenso. Acomodando interesses de certas seitas enquanto assiste Ă s suas subnarrativas se desmantelarem em fricção interna (Alcirina? Amoedo? Uma coalizĂŁo milagrosa de Ășltima hora no fim de semana das eleiçÔes?).
A Igreja Azul nĂŁo consegue se âdefenderâ
Depois de tanto tentar antecipar qual frente ou âmentiraâ da FĂ© MemĂ©tica a combater em seguida, a mĂĄquina aparelhada da Igreja Azul se exauriu. E hoje, sĂł serve para amplificar o jogo memĂ©tico de quem tanto desdenha.
Depois de cunhar a expressĂŁo fake news, a grande mĂdia norteamericana agora faz campanha para que paremos de usar o termo.
Jair Messias nĂŁo conquistou por conta prĂłpria o espaço que desde o começo lhe foi negado na TV â chegou aos confins do paĂs pelas mĂŁos de um atentado que Ă© resposta da Igreja Azul Ă s âabelhas escoteiroâ.
A hashtag #elenao, até agora, parece só vir aumentando a aceitação de Bolsonaro entre eleitoras mulheres.
A coerĂȘncia estĂĄ no processo, e nĂŁo na ideologia/sentimento que une o bando â por isso Ă© tĂŁo difĂcil criticar/atacar com eficĂĄcia.
âBolsonaro Ă© homofĂłbico!â â âmas o Ciro jĂĄ falou coisas muito piores envolvendo homossexualismoâ. âBolsonaro nunca fez nada de Ăștil na CĂąmara!â â âmelhor do que se tivesse roubado como fez o PTâ.
A Fé Memética conhece a nova paisagem midiåtica e joga com ela a seu favor. A sua descentralização evita pontos singulares de ataque.
Uma guerra em 4 frentes
Esta guerra Ă© sobre mais que ideologia, dinheiro ou poder. A maioria dos participantes nem entende por completo o que estĂĄ em jogo. Num nĂvel mais profundo, atravessamos um conflito existencial entre duas formas diferentes e incompatĂveis de se formar inteligĂȘncia coletiva e manter coerĂȘncia social.
De agora em diante, vai ser cada vez mais confuso. Para buscar clareza, vamos destilar 4 frentes em que a guerra vem se desenrolando:
1. Infraestrutura de comunicaçÔes
Corromper a infraestrutura de comunicação e controle do inimigo é lição båsica de guerra.
Trump o faz martelando a acusação de que a grande mĂdia Ă© esquerdista-manipuladora. Bolsonaro segue a cartilha Ă risca.
Em vez de tentar tomar o controle da estrutura de comunicação tradicional, ambos miram destruĂ-la, ignoram-na, e a substituem por arquiteturas diferentes (Bolsonaro responde seus grupos de WhatsApp toda noite durante o horĂĄrio eleitoral).
A eficiĂȘncia memĂ©tica da Folha, da Record, da CNN, do Washington Post â vocĂȘ escolhe â estĂĄ despencando ladeira abaixo. NĂŁo me surpreenderia ver boa parte dessas entidades falindo nas prĂłximas dĂ©cadas.
2. O âEstado profundoâ
Na polĂtica tradicional, espera-se que um candidato eleito integre-se ao aparato do Estado existente, fazendo pequenos ajustes e influenciando na carreira de burocratas que compĂ”em boa parte da mĂĄquina governamental.
Aécio não teria alterado o rumo do aparato estadista em comparação com o que fez Dilma, apesar de provåveis mudanças pontuais. A Igreja Azul no måximo aspira a cortar laços estabelecidos décadas, ou séculos atrås. Por outro lado, a Fé Memética identifica o Estado em si como antagonista, e se engaja diretamente num conflito existencial contra ele.
O Estado estĂĄ no negĂłcio de monopolizar o poder faz tempo. Mas (1) ele estĂĄ fragmentado; e (2), como jĂĄ falamos, suas tĂĄticas sĂŁo lentas e antiquadas.
Como exemplo, tome o meme das fake news. Carrega os traços clĂĄssicos de uma iniciativa da Igreja Azul. Cuidadosamente planejado, o povo sendo educado a respeito atravĂ©s da mĂdia, alto grau de coordenação, timing preciso antes das Ășltimas eleiçÔes presidenciais americanas, sinais vindo de todas as diretivas autoritĂĄrias.
Uma leitura possĂvel Ă© a de que o meme das fake news foi uma resposta do âEstado Profundoâ Ă batalha na frente (1) â a batalha pela infraestrutura de comunicaçÔes.
Ao que parece, a iniciativa não só falhou, como serviu de munição para que a Fé Memética subvertesse o conceito em uma ferramenta sua. Como? Movendo-se råpido, de modo não-convencional, descentralizado e dotado de comprometimento absoluto com a vitória.
3. Globalismo
A retĂłrica anti-globalista Ă© comum a lĂderes na FĂ© MemĂ©tica. Note a relativa facilidade com que Trump se opĂ”e Ă âfalsa serenata globalistaâ â como abandonou sem dificuldade o acordo TransPacĂfico, por exemplo.
O Banco Mundial, a ONU, tratados internacionais e, mais importante, instituiçÔes globalistas como a Federal Reserve, são os próximos alvos na fila. As armas do contra-ataque globalista são a ameaça às elites e doses cavalares de propaganda.
A esse ponto, vejo sĂł duas jogadas estratĂ©gicas para o globalismo. (1) Desestabilização econĂŽmica Ă guisa de se âjogar o povoâ contra a FĂ© MemĂ©tica; (2) algum tipo de desestabilização social/militar coordenada.
Acontece que a insurgĂȘncia da FĂ© MemĂ©tica Ă© imune Ă propaganda globalista. E muito eficiente em associar problemas econĂŽmicos ao discurso globalista (âos imigrantes estĂŁo tomando nossos empregos!â).
Pare pra pensar: dentre as maiores potĂȘncias globais, hoje, somente a UniĂŁo Europeia Ă© controlada por globalistas.
As consequĂȘncias da batalha nesse front sĂŁo o enfraquecimento da ordem institucional-global do pĂłs-guerras, e um rebalanceamento do poder em alinhamentos nacionalistas ainda nĂŁo muito claros/compreendidos.
Por exemplo, podemos esperar que problemas âde escala mundialâ como o aquecimento global ou o combate ao terrorismo saiam um pouco de foco â mas ainda nĂŁo Ă© claro.
Ă plausĂvel que alianças âde nação com naçãoâ sejam capazes de progredir significativamente em tais questĂ”es. Particularmente se assumirmos que agendas globalistas vinham extraindo valor de crises em escala global, mais do que ajudando a resolvĂȘ-las.
AlĂ©m do mais, nĂŁo hĂĄ razĂŁo para desacreditar que um nacionalismo multi-polar deva ser menos estĂĄvel, no longo-prazo, que a hegemonia. A histĂłria jĂĄ pendulou para ambos os lados. Mais claro, talvez, seja o perĂodo de alerta que se estabelece na transição entre forças globalistas lutando para manter o poder vs. forças nacionalistas que ainda nĂŁo encontraram um equilĂbrio estĂĄvel entre si.
4. A guerra cultural
OK: se vocĂȘ chegou atĂ© aqui, parabĂ©ns. Vamos dedicar uma seção exclusiva a essa frente.
A verdade objetiva morreu onde começou a guerra dos memes. VocĂȘ pode achar que isso soa como brincadeira. Mas nĂŁo Ă© bem o caso.
A guerra dos memes (2015-presente)
Graças Ă internet, adentramos condição completamente pĂłs-moderna. Como algum gostam de chamar, âa crise da realidadeâ.
Onde a mĂdia tradicional antes provia consenso em torno do real⊠a descentralização da tecnologia informacional agora permite que qualquer indivĂduo documente eventos, crie narrativas e desafie percepçÔes em tempo real, sem um pingo de consideração por qualquer Ă©tica jornalĂstica.
A esquerda ganhou a 1Âș Guerra Cultural, entre os anos 1960â1990. O que estĂĄ acontecendo agora nĂŁo Ă© a insurgĂȘncia da âvelha direitaâ, mas a emergĂȘncia de uma nova forma de inteligĂȘncia coletiva.
A Igreja Azul estĂĄ em desespero porque percebeu que o inimigo nĂŁo Ă© mais o Conservadorismo CristĂŁo batido que derrotaram dĂ©cadas atrĂĄs, mas sim uma âfĂ©â nova, baseada em identidade cultural e na rejeição Ă prĂłpria noção de coordenação top-down.
Se mapearmos o arco evolutivo da guerra cultural dos anos 50 aos anos 90, veremos o surgimento de um conjunto de estratĂ©gias, tĂ©cnicas e alianças por parte da Igreja Azul que foram sendo aperfeiçoadas com o tempo. Por exemplo, o poder crĂtico dos epĂtetos âracistaâ ou âsexistaâ, que tinham pouca ou nenhuma tração nos anos 30â40, e ao final dos anos 90 tornaram-se pivotais.
Como bactĂ©rias tornando-se cada vez mais imunes a um antibiĂłtico, via exposição constante, os traços da FĂ© MemĂ©tica que foram suprimidos (e sobreviveram) durante dĂ©cadas de esmagamento por parte da Igreja Azul começaram a se cristalizar e expandir. O que agora irrompe no zeitgeist Ă© inĂ©dito, e quase completamente imune Ă s tĂ©cnicas retĂłricas e polĂticas da Igreja Azul.
Chamar um adepto da FĂ© MemĂ©tica de âracistaâ nĂŁo vai incitar mais do que um âmehâŠâ e um olhar desdenhoso de demissĂŁo. As armas antigas nĂŁo servem ao combate pĂłs-moderno.
Além do mais, a Fé Memética não tem a aspiração de engajar-se no discurso com a Igreja Azul. Habitou-se a rejeitå-lo por completo. à bactéria vs. antibiótico.
A Fé Memética considera que a Igreja Azul (e seus membros) age de må fé por definição, e enxerga as doutrinas desta quase como doença mental. A Fé Memética não tem a intenção de dialogar, interagir ou dividir o poder com a Igreja Azul.
Muitos dos sĂmbolos da FĂ© MemĂ©tica sĂŁo designados a partir de elementos banais, no intuito de literalmente fazer membros da Igreja Azul se passarem por loucos quando estes, histericamente, apontam-nos e os rotulam como âapologiaâ a qualquer valor que condenam.
Se quiser sobreviver, a Igreja Azul deve se preparar para a guerra. E, nessa guerra, a Fé Memética larga com ampla vantagem.
A Igreja Azul aprendeu a dominar pelo cinema e pela novela. A Fé Memética, pela trolagem e pelos memes.
PĂłs-polĂtica â ou âcomo nos organizamos agoraâ?
A polĂtica pode ser interpretada como a organização da disputa pelo poder entre homens. O que acontece quando nĂŁo se tem mais como monopolizar o poder?
A disputa por ele se torna caĂłtica. Em vez âa cada turnoâ (ou termos de 4 anos), a batalha agora acontece todo dia. Ă preciso aprender a jogar. Para quem quiser começar, 4 conselhos:
- 1) VocĂȘ provavelmente estĂĄ boicotando a prĂłpria evolução cognitiva atravĂ©s do apego Ă narrativa da Igreja Azul, o amor cego ao Estado, os ouvidos que dĂĄ Ă velha mĂdia e a fĂ© que deposita em muitos outros aspectos do establishment. Liberte-se. Vai ser muito mais difĂcil do que parece. Se vocĂȘ tem menos de 40 anos, sua vida toda se desenrolou Ă sombra da onipotĂȘncia da Igreja Azul. Examine suas premissas mais bĂĄsicas e aprenda a questionar mesmo seu valores mais arraigados com honestidade brutal.
- 2) Busque maneiras de exercitar seu âgerador de sentidoâ interno, e colabore com âsistemas geradores de sentidoâ coletivos.
- 3) #1 e #2 requerem outras pessoas. Uma vez que suas maneiras tradicionais de se colaborar com outras pessoas estĂŁo obsoletas ou sob suspeita, vocĂȘ vai ter de reaprender a construir relacionamentos Ă moda antiga. Torne-se muito melhor em fazer amigos. NĂŁo amigos de rede social, ou meros conhecidos. Amigos que dariam um braço por vocĂȘ, mesmo que discordem com 100% de suas crenças â aquele tipo de relação que deriva da âsubstĂąncia humanaâ e foge Ă explicação racional.
- 4) Se tem convicção na Igreja Azul, estude maneiras radicais de reformå-la.
Ă tempo de transição. Estruturas de controle social bem sucedidas durante muito tempo tornaram-se insustentĂĄveis. A mudança vai ser turbulenta e chegar Ă extrema violĂȘncia, em alguns casos. Trata-se de um padrĂŁo clĂĄssico para que a instabilidade e âcisnes negrosâ surjam.
Sinta-se livre para selecionar recortes especĂficos da realidade e acreditar na visĂŁo da Poliana (âmas os dados mostram que a pobreza vem diminuindo historicamente!â). Enxergar o mundo em cor-de-rosa nĂŁo altera os fatos.
CiĂȘncias quĂmicas e fĂsicas comprovam que praticamente metade das calotas polares na Terra foram irreparavelmente perdidas nos Ășltimos 100 anos; que mais de 90% dos âestoques de peixeâ foram removidos do oceano; que a emissĂŁo de gases estufa continua crescendo ano a ano (desacelerando somente quando se tem um crash financeiro de proporçÔes globais); que as tundras Ărticas e oceanos em altas latitudes jĂĄ deixam escapar metano na atmosfera.
Ă difĂcil ignorar o prospecto de que estamos no meio da sexta extinção em massa na histĂłria de 4.5 bilhĂ”es de anos da Terra.
CiĂȘncias econĂŽmicas e sociais sugerem que a desigualdade Ă© crĂŽnica e extrema; que a confiança em instituiçÔes pĂșblicas estĂĄ em mĂnimas histĂłricas; que hĂĄ mais gente viva do que em qualquer outra era; que o crescimento econĂŽmico (na berlinda) Ă© fator-chave para conter o apocalipse malthusiano; que as tendĂȘncias mais relevantes a moldarem a evolução da sociedade encaixam-se em curvas exponenciais de crescimento ou queda â o tipo com o qual nĂŁo estamos preparados para lidar.
Pois se Ă© pra ser otimista â ou ter alguma esperança â eu prefiro analisar e encarar a realidade com o pĂ© no chĂŁo. Evitar o ânegativoâ tem um nome na psicologia â chama-se negação.
Muitos de nós estão em negação. Esperando por um salvador.
Olhe para seu próprio umbigo. Se hå esperança na humanidade, ela reside na sua capacidade de seguir seus talentos, pensar por conta própria, e iluminar o mundo com sua vocação, mesmo nos tempos mais sombrios.
Adiante, Brasil. Adiante, humanidade.
ReferĂȘncias
- Understanding the Blue Church (Jordan Hall, 2017).
- Meditations on Moloch (Slate Star Codex, 2014).
- Collective Intelligence and Swarms in the Red Insurgency (Gustavo, 2017).
- Memetic Tribes and Culture War 2.0 (Peter Limberg e Conor Barnes, 2018).
- Situational Assessment: Trump Edition (Jordan Hall, 2017).
- Right is the New Left (Slate Star Codex, 2014).
- The Germ Theory of Democracy, Dictatorship, and All Your Most Cherished Beliefs (Pacific Standard Magazine, 2014).
- Democracia vs. Consenso: dĂĄ pra ter um sem precisar do outro? (Felipe GaĂșcho Pereira, 2016).